Pré-fabricação e ousadia formal do modernismo belga: a história dos Edifícios CBR e LH 187 em Bruxelas

Entre 1960 e 1976, a capital da Bélgica tornou-se um cenário de experimentos arquitetônicos que combinavam os ideais modernistas com a pré-fabricação, culminando na construção de dois edifícios icônicos. O CBR Office Building (1967-1970) e o LH 187 (1976), projetados por Constantin Brodzki e Marcel Lambrichs, são vizinhos e compartilham uma linguagem arquitetônica audaciosa. Ambos se destacam por suas fachadas formadas por grandes módulos de concreto pré-fabricado, que não só evidenciam a estética brutalista, mas também revelam o empenho em usar materiais industriais e técnicas construtivas inovadoras para a época.

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Projetar a sede de uma empresa de cimento foi a oportunidade ideal para que Brodzki e Lambrichs testassem o potencial construtivo do concreto. O requerimento surgiu em 1960, quando os caminhos de Brodzki e o diretor da empresa belga Cimenteries Belges Réunies (CBR) se cruzaram. Na época, tanto a empresa quanto o arquiteto buscavam se afirmar em suas respectivas áreas, compartilhando o mesmo ímpeto pela inovação e destaque dentro do mercado. Esse casamento de ideais fez com que a parceria resultasse em muito mais do que um simples projeto arquitetônico.

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CBR Office Building /Constantin Brodzki and Marcel Lambrichs. Image © Lucas Reitz

Com acesso livre à fábrica e um pátio a sua disposição, o arquiteto começou a realizar uma série de experimentos, desenvolvendo uma metodologia complexa para criar módulos de concreto pré-fabricados. Constantin Brodzki abordou o concreto para além de um mero material de construção, explorando sua liberdade formal para criar elementos mais orgânicos. Essa abordagem ousada refletia uma inquietação pessoal de Brodzki, que questionava por que o concreto era amplamente utilizado para criar estruturas retas e rígidas, quando seu estado fluido oferecia infinitas possibilidades de formas curvas e orgânicas. Um pensamento que pode ser entendido como resultado da sua experiência como estagiário no projeto da sede das Nações Unidas em Nova York, em 1945. Sob a supervisão de dois gigantes da arquitetura moderna, Le Corbusier e Oscar Niemeyer – na ocasião iniciando sua carreira -, Brodzki teve contato com a visão de Niemeyer, que se destacava pelo uso de formas curvas e pela liberdade expressiva que o concreto permitia. Essa vivência possivelmente plantou a semente para que ele, mais tarde, buscasse uma abordagem mais criativa e experimental no uso do material.


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CBR Office Building /Constantin Brodzki and Marcel Lambrichs. Image © Lucas Reitz

Após anos de intensas experimentações, em colaboração com a Cimenteries Belges Réunies (CBR) e dois irmãos portugueses especializados em gesso, Constantin Brodzki conseguiu concretizar uma das maiores inovações do projeto: os módulos pré-fabricados que se tornariam a marca registrada da fachada do edifício. O processo de desenvolvimento envolveu a criação de dezenas de modelos de teste, cada um refinado até atingir a forma ideal. Quando o design definitivo foi alcançado, moldes de epóxi foram produzidos para garantir a precisão e repetição das peças. O resultado desse esforço conjunto foi a fabricação de 756 módulos de concreto pré-fabricado, que não apenas definiram a identidade visual do edifício, mas também representaram uma inovação construtiva para a época. As formas curvas e orgânicas dos módulos desafiavam a rigidez das construções tradicionais, demonstrando o potencial do concreto como material artístico e funcional.

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CBR Office Building /Constantin Brodzki and Marcel Lambrichs. Image © Lucas Reitz

Em termos volumétricos, o edifício foi composto por duas alas paralelas unidas entre si, mas ligeiramente deslocadas. Com uma altura de aproximadamente 30 metros, ele possui nove andares acima do solo e três subterrâneos. Os módulos ovais pré-fabricados em concreto branco emolduram os vidros tingidos de alaranjado fixados diretamente no concreto, sem caixilhos. Sua construção também envolveu a instalação de um sistema completo de ar condicionado, o primeiro do gênero na Bélgica, outra herança da experiência de trabalho de Brodzki nos Estados Unidos. Além disso, o ritmo de construção foi notavelmente rápido para os padrões da época, já que o uso de módulos pré-fabricados permitiu a construção de um andar por semana, destacando a eficiência do método construtivo.

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CBR Office Building /Constantin Brodzki and Marcel Lambrichs. Image © Lucas Reitz

Alguns anos mais tarde, em 1976, a dupla de arquitetos teve a oportunidade de projetar o LH 187, edifício comercial situado logo ao lado da sede da CBR. Suas fachadas refletem os aprendizados adquiridos na concepção do edifício vizinho, sendo igualmente compostas por peças pré-fabricadas em concreto liso branco e vidros ocres. Trata-se de um conjunto de cinco edifícios que revela a maturidade do estilo dos arquitetos, os quais souberam equilibrar forma, proporção e funcionalidade em um conjunto de cinco edifícios distintos, mas integrados.

Enquanto o LH 187 tem seu uso original mantido até hoje, o CBR passou por uma fase conturbada em 2017, quando a empresa original decidiu transferir suas operações para um novo local, alegando que o edifício não atendia mais aos seus padrões. A edificação ficou vaga por um ano, após o qual a empresa de coworking Fosbury & Sons, viu nele uma oportunidade para criar novos espaços de trabalho coletivo. Nesse momento, houve a preocupação de que o edifício fosse demolido ou descaracterizado. Brodzki, que nutria especial apego pelo projeto, já que trabalhou nos seus mínimos detalhes como os botões do elevador, endossou o alerta no auge do seu quase um século de vida. Ao todo, vinte e cinco arquitetos peticionaram pela preservação do edifício. Rudi Vervoort, Ministro-Presidente da Região de Bruxelas-Capital, respondeu iniciando o processo de adição do Edifício CBR à lista de patrimônio protegido em Bruxelas (que protege o exterior do edifício). Mais tarde, ele também garantiu uma preservação ideal do edifício durante sua reforma pela Fosbury & Sons. Apesar do receio, os arquitetos responsáveis pela reforma não tinham planos de demolir nenhum elemento, de tal forma que foram preservados muitos dos detalhes arquitetônicos de Brodzki, requalificando-o, mas mantendo a unidade arquitetônica.

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LH 187 Office Building /Constantin Brodzki and Marcel Lambrichs. Image © Lucas Reitz

A aplicação dos módulos de concreto pré-fabricados e suas formas orgânicas nas fachadas foi difundida mundialmente como "estilo CBR". Essas peças modulares não apenas marcaram o edifício de Brodzki, mas também inspiraram uma série de construções em toda a Bélgica até o final da década de 1970, como o Supermercado Rob em Woluwe-Saint-Pierre. Apesar da popularidade inicial, o uso dos módulos de concreto pré-fabricado começou a declinar no início da década de 1980. Segundo o próprio Constantin Brodzki, uma das razões para essa redução foi a dificuldade das equipes de construção em entender e executar adequadamente o complexo processo de fabricação e montagem das peças. No entanto, mesmo com o declínio do uso massivo, o legado do estilo CBR permanece como um marco na história da arquitetura moderna. Brodzki foi um pioneiro ao demonstrar que era possível unir a pré-fabricação com uma ousadia formal que confere leveza e expressividade às construções.

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LH 187 Office Building /Constantin Brodzki and Marcel Lambrichs. Image © Lucas Reitz

Esta matéria faz parte de uma série do ArchDaily intitulada AD Narratives em que compartilhamos a história por trás de um projeto selecionado, mergulhando em suas particularidades. Todos os meses, exploramos novas construções ao redor do mundo, destacando sua história e como elas surgiram. Também conversamos com o arquiteto, construtores e comunidade, buscando ressaltar suas experiências pessoais. Como sempre, no ArchDaily, valorizamos muito a contribuição de nossos leitores. Se você acha que devemos apresentar um determinado projeto, por favor, envie suas sugestões.

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Sobre este autor
Cita: Camilla Ghisleni. "Pré-fabricação e ousadia formal do modernismo belga: a história dos Edifícios CBR e LH 187 em Bruxelas" 21 Out 2024. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1021664/edificios-cbr-e-lh-187-pre-fabricacao-e-ousadia-formal-no-modernismo-belga> ISSN 0719-8906

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